3ºB - DIA 05/02 - segunda-feira - VISTO
3ºA - DIA - 06/02 - terça-feira - VISTO
QUESTÃO 1
De domingo
— Outrossim?
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É.
— O que que tem?
—Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é óbice.
— “Ônus.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É.
— O que que tem?
—Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é óbice.
— “Ônus.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
(VERÍSSIMO. L.F. Comédias da vida privada. Porto
Alegre: LP&M, 1996).
No texto, há uma discussão sobre o uso
de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o
(a)
(A) marcação
temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
(B) tom
humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas
em contextos formais.
(C) caracterização
da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência
de palavras regionais.
(D) distanciamento
entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras
com significados poucos conhecidos.
(E) inadequação
vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte
de um dos interlocutores do diálogo.
QUESTÃO 2
Texto I
Entrevistadora — Eu vou conversar
aqui com a professora A.D. … O português
então não é uma língua difícil?
Professora — Olha se você parte do princípio… que
a língua portuguesa não é só regras
gramaticais… não se você se apaixona pela língua
que você… já domina… que você já fala
ao chegar na escola se teu professor cativa você
a ler obras da literatura… obra da/ dos meios de
comunicação… se você tem acesso a revistas… é… a livros
didáticos… a… livros de literatura o mais formal o e/
o difícil é porque a escola transforma como
eu já disse as aulas de língua portuguesa
em análises gramaticais.
Texto II
Professora — Não, se você parte do princípio que
língua portuguesa não é só regras gramaticais. Ao
chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se
o professor motivá-lo a ler obras literárias e se
tem acesso a revistas, a livros didáticos, você se
apaixona pela língua. O que torna difícil é
que a escola transforma as aulas de língua portuguesa
em análises gramaticais.
(MARCUSCHI, L. A. Da fala para
a escrita: atividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2001)
O texto I é a transcrição de
entrevista concedida por uma professora de português a
um programa de rádio. O texto II é a adaptação dessa
entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
(A) apresentam ocorrências de hesitações e
reformulações.
(B) são modelos de emprego de regras gramaticais.
(C) são exemplos de uso não planejado da língua.
(D) apresentam marcas da linguagem literária.
(E) são amostras do português culto
urbano.
QUESTÃO 3
Mandinga — Era a denominação que,
no período das grandes navegações, os portugueses davam
à costa ocidental da África. A palavra se tornou
sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos
consideram bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles
davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma
nativo, mandingdesignava terra de feiticeiros. A palavra
acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio.
(COTRIM, M. O pulo do gato 3.
São Paulo: Geração Editorial, 2009. Fragmento)
No texto, evidencia-se que a construção do
significado da palavra mandinga resulta de um (a)
(A) contexto sócio-histórico.
(B) diversidade técnica.
(C) descoberta geográfica.
(D) apropriação religiosa.
(E) contraste cultural.
QUESTÃO 4
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e
quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que
ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas, Eurico, nós lhe devemos certas
atenções.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo
foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro,
se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu
dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele,
sedento, atacado da verdadeira hidrofobia. Vive farejando
ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu,
atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo
Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.
(SUASSUNA, A. O santo e
a porca. Rio de Janeiro: José Olimpyio, 2013)
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o
peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
(A) marcar a classe social das personagens.
(B) caracterizar usos linguísticos de uma região.
(C) enfatizar a relação familiar entre as
personagens.
(D) sinalizar a influência do gênero nas
escolhas vocabulares.
(E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma
das personagens.
QUESTÃO 5
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo pra xaxar
Óia eu aqui de novo pra xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.
(BARROS, A. Óia eu aqui de
novo. Disponível em <www.luizluagonzaga.mus.br >
Acesso em 5 mai 2013)
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos
do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que
singulariza uma forma do falar popular regional é
(A) “Isso é um desaforo”
(B) “Diz que eu tou aqui com alegria”
(C) “Vou mostrar pr’esses cabras”
(D) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
(E) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
QUESTÃO 6
Só há uma saída para a escola se ela quiser
ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um
fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma
de língua em suas atividades escritas? Não deve mais
corrigir? Não!
Há outra dimensão a ser considerada: de
fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português
correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo
dos contratos não é o mesmo dos manuais de
instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo
dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o
mesmo dos dos cadernos de cultura dos mesmos jornais.
Ou do de seus colunistas.
(POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua
Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).
Sírio Possenti defende a tese de que não existe
um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da
língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber
(A) descartar as marcas de informalidade do
texto.
(B) reservar o emprego da norma padrão aos
textos de circulação ampla.
(C) moldar a norma padrão do português
pela linguagem do discurso jornalístico.
(D) adequar as formas da língua a diferentes
tipos de texto e contexto.
(E) desprezar as formas da língua previstas
pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola.
QUESTÃO 7
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como
folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada
(aliás, não se usa mais a primeira pessoa, tanto do
singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria
linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do
léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou
minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que
representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saber
dizer que viram um filme que trabalha muito bem.
E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de
roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol
em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez
de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez
de um resfriado, vão andar no passeio em vez de
passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão
sua esposa ou sua senhora em vez de
apresentar sua mulher.
(SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13
abr. 1984)
A língua varia no tempo, no espaço e
em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica
essa característica da língua, evidenciando que
(A) o uso de palavras novas deve ser
incentivado em detrimento das antigas.
(B) a utilização de inovações do léxico é percebida
na comparação de gerações.
(C) o emprego de palavras com sentidos
diferentes caracteriza diversidade geográfica.
(D) a pronúncia e o vocabulário são aspectos
identificadores da classe social a que pertence o falante.
(E) o modo de falar específico de pessoas
de diferentes faixas etárias é frequente em todas as
regiões.
QUESTÃO 8
Assum preto
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá.
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá.
As marcas da variedade regional registradas pelos compositores
de Assum preto resultam da aplicação de um conjunto de princípios ou regras
gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto,
é resultado de uma mesma regra a
(A) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.
(B) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.
(C) flexão verbal encontrada em “furaro” e
“cantá”
(D) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata
em frô”.
(E) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.
QUESTÃO 9
Palavras jogadas fora
Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o
curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O
sentido da palavra é o de “jogar fora” (pincha
fora essa porcaria) ou “mandar embora” (pincha esse fulano
daqui). Teria sido uma das muitas palavras que ouvi menos na capital do
estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem
esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso”.
Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é algo do passado,
que deixará de existir tão logo essa geração antiga morrer.
As palavras são, em sua grande maioria,
resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de
nascermos. “Tradição”, etimologicamente, é o ato de entregar, de passar
adiante, de transmitir (sobretudo valores culturais). O rompimento
da tradição de uma palavra equivale à sua extinção. A gramática
normativa muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o
fator mais forte que motiva os falantes a extinguirem
uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou
indiretamente pela visão normativa, a um grupo que julga não
ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente
rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está
fadado à extinção?
É louvável que nos preocupemos com a extinção
das ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a extinção
de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não
nos comovemos com a extinção de insetos, a não ser dos extremamente
belos. Pelo contrário, muitas vezes a extinção das palavras é
incentivada.
VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n.
77, mar. 2012 (adaptado).
A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar”
nos traz uma reflexão sobe a linguagem e seus
usos, a partir da qual compreende-se que
(A) as palavras esquecidas pelos falantes devem ser
descartadas dos dicionários, conforme sugere o título.
(B) o cuidado com espécies animais em extinção é mais urgente
do que a preservação de palavras.
(C) o abandono de determinados vocábulos está associado a
preconceitos socioculturais.
(D) as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário de
uma língua.
(E) o mundo contemporâneo exige a inovação do
vocabulário das línguas.
QUESTÃO 10
Da corrida de
submarino à festa de aniversário no trem
Leitores fazem sugestões
para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar
‘caraca!' a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção
do carioca, como também o ‘vacilão'.”
“Cariocas
inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão' e ‘é merrmo' para um amigo
pode até doer um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um
‘choro' ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar
um quase desconhecido de ‘querido' é um carinho inventado pelo carioca para
tratar bem quem ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é
um querido' é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F Disponível em:
www.oglobo.globo.com. Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).
Entre as sugestões
apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado
repertório linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes
situações específicas de uso social. A respeito desse repertório, atesta-se
o(a)
A. desobediência à norma-padrão, requerida em
ambientes urbanos.
B. inadequação linguística das expressões cariocas
às situações sociais apresentadas.
C. reconhecimento da variação linguística, segundo
o grau de escolaridade dos falantes.
D. identificação de usos linguísticos próprios da
tradição cultural carioca.
E. variabilidade no linguajar carioca em razão da
faixa etária dos falantes.